quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Projeto Cultura e Identidade Apresentará trabalho na I Jornada Questão Agrária e Desenvolvimento nos dias 16 a 18 de novembro



A Jornada é organizada por grupos de pesquisa e Programas de Pós-Graduação da UFPR que discutem o Mundo Rural e a Questão Agrária. Fazem parte da organização o Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e pela Terra (ENCONTTRA), Centro de Tecnologias Sociais e Educação em Segurança Alimentar e Nutricional para Recuperação da Agricultura Familiar, Pós-Desastres e a Soberania Alimentar da América Latina e Caribe (CTECSAN), Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Agroecologia da Universidade Federal do Paraná (NEPEA-UFPR) e Centro de Estudos Rurais e Socioambientais do Paraná (CERU-PR).

domingo, 29 de maio de 2011

Projeto Cultura e Identidade no ENAPEGS 2011


O Projeto Cultura e Identidade desenvolve ações em comunidade do Sul da baia de Guaratuba, os processos de interação e transformação do campo, a gestão democrática e  o avanço  cientifico e tecnológico .São princípios orientadores de suas práticas educacionais:

 1-Principio da Transdisciplinaridade: a construção do processo educativo que contribua para a articulação entre os saberes locais, regionais e globais, garantindo um livre trânsito entre os campos dos saberes e dos conhecimentos.

 2-Principio do Diálogo: garantia de uma dinâmica de aprendizagem-ensino que assegure o respeito à cultura do povo, a valorização dos diferentes saberes e a produção  coletiva do conhecimento.

 3-Principio da Participação: Não existe um modelo e não há nada que define uma solução final, já que os seres humanos assim como os que os rodeiam , são pontes de um fluxo que não pode ser imobilizado por modelos regidos e estabelecidos.

4-Principio da Práxis: a construção de um processo educativo que tenha por base o movimento de ação-reflexão-ação e a perspectiva de transformação da realidade.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Histórico de ocupação da Juréia - Um exemplo para o nosso litoral?

Histórico de ocupação da Juréia

“O modo de vida das comunidades tradicionais caiçaras deve ser tomado como exemplo de conservação ambiental para o planeta, e não como risco de degradação ambiental”



Logo após o descobrimento, na colonização do Brasil, começaram a chegar as primeiras famílias na Juréia, eram espanhóis e portugueses, onde em uma miscigenação entre povos europeus, negros e indígenas que habitavam a região formou a população caiçara que além do conhecimento herdado dos aborígenes que habitavam aquela região antes da colonização, que detinham técnicas apuradas de extrativismo e de cultivo apropriado às variáveis do ambiente onde viviam.

Com o passar do tempo o saber colonizador europeu veio sendo aprimorado de forma positiva para aquele ambiente.Desde então, a somatória desses conhecimentos aplicados em inúmeros campos ligados ao uso racional dos recursos naturais como na pesca, caça e agricultura, bem como em relação a fenômenos naturais como maré, fases da lua, época do ano e suas interferência no que se diz respeito ao dia-a-dia do trabalho na lavoura vem sendo utilizado em prol da sua própria sobrevivência, conhecimentos tradicionais lapidados pela experiência e convívio com o meio ambiente, que se comprovou de maneira sustentável.

Desenvolveram também, ao longo do tempo, inúmeras manifestações culturais na religião, em suas musicas e danças, comidas típicas e artesanato, que por sua vez eram utilizados no seu dia-a-dia, como colheres de pau e gamelas como instrumentos da cozinha, canoas e redes para pesca e violas e rabecas para o fandango.

Hoje todos esses conhecimentos são sugados e utilizados por diversos pesquisadores, que na sua grande maioria não devolvem nenhum retorno as comunidades e muito menos créditos em suas pesquisas.

A existência das comunidades caiçaras além de reterem todos esses conhecimentos e muitos outros, desempenham um papel de extrema importância para a conservação e manutenção do meio ambiente, como por exemplo, o controle e reposição de espécies, limpeza dos córregos rios e riachos restabelecendo o do fluxo das águas e recuperando a função florestal por conseqüência a irrigação da floresta e o escoamento das áreas alagadas pelas chuvas impedindo a morte e estresse de inúmeras espécies animais e vegetais.

Essas comunidades vêm a mais de quatro séculos utilizando os recursos naturais de maneira sustentável, o que proporcionou a conservação da Juréia até hoje. Estes dados reforçam a extrema importância do homem para a estabilização do ecossistema, principalmente na Juréia.

Vários estudos técnicos confirmam que essa visão do homem fora do meio é ultrapassada, pois temos certeza que as comunidades fazem parte da natureza.

Para que essas comunidades dêem continuidade a essa cultura, na sua função ecológica de conservação e convívio em completa harmonia com o meio ambiente, é preciso garantir a permanência das mesmas em suas terras. Para isso é necessário re-categorizar as áreas de uso de todas as comunidades caiçaras da Juréia em Reservas de Desenvolvimento Sustentável, pois Unidades de Conservação como Estação Ecológica não permite a manifestação de nenhuma dessas atividades culturais.


Mais informações desses 23 anos de luta no blog: Juréia - Cultura, História e Meio Ambiente

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Paz é fruto da Justiça

Carta Maior/ Colunista: Robson Leite  23/09/2010 
DEBATE ABERTO

O Profeta Isaías disse sete séculos antes de Cristo que “a paz é fruto da justiça”. O erro da humanidade moderna foi manter essa afirmação dentro de um âmbito religioso quando, na verdade, se tratava de uma grande diretriz estratégica que deveria orientar todos os governos do mundo.

 
O mundo capitalista vem colocando, ao longo dos anos, a economia como um elemento intocável. Quase como um deus. Ela chega ao extremo de ser elevada a um patamar inalcançável onde todas as pessoas precisam se submeter aos seus fundamentos e valores. Até a própria política se torna, nesse contexto, submissa e refém dos conceitos e princípios econômicos neoliberais. Quem ousa mudar, politicamente, as diretrizes econômicas e monetárias de um país capitalista moderno? Pode-se até mudar os governos ou algo sutil na condução política dos mesmos, mas os dirigentes das políticas econômicas e os paradigmas advindos de suas gestões nos países capitalistas como os presidentes e diretores dos Bancos Centrais ficam, infelizmente, acima até dos Chefes de Estado e de suas diretrizes e estratégias governamentais.
Durante a crise mundial ocorrida no final de 2008, muitos foram os “socorros econômicos” alguns bilhões de dólares enviados aos bancos e às organizações financeiras “globais” com a desculpa de evitar uma “quebradeira generalizada do modelo econômico mundial vigente”. Segundo a ONU, durante o curto período que vai do final de 2008 ao início do segundo semestre de 2009 os bancos ganharam muito mais dinheiro do que todas as nações pobres do mundo em 50 anos. Um verdadeiro escândalo se olharmos para as metas do milênio que objetivam acabar com a fome e a miséria do mundo e o quanto de recursos financeiros que necessitamos para essa finalidade. Será que esse é o caminho de justiça e solidariedade que queremos deixar para as próximas gerações do nosso planeta?

Há muitos países no mundo onde crianças morrem pela falta de saneamento básico e outros onde as pessoas precisam viajar mais de 200 km para ter acesso a hospitais e médicos. Também existem países no mundo inclusive no dito “primeiro mundo” onde quem não tem dinheiro para pagar assistência médica de saúde simplesmente morre sem atendimento. Segundo as palavras dos seus próprios governantes, “é a lei do mercado”. Nesses lugares, a economia está, de maneira triste e lamentável, hierarquicamente acima da política e, conseqüentemente, da vida.
A economia dessas regiões baseia-se no fortalecimento dos interesses individuais e de uma falsa ética utilitária. O interesse individual, nesse contexto, constitui-se como elemento fundamental, pois sustenta o consumo e destrói todo e qualquer mecanismo que possa atrapalhar ou impedir a lógica do mercado. Sindicatos e associações de empregados, nessa ótica infeliz e cruel, são desarticulados e desmotivados a se organizar. Qual o empregado que, preocupado com sua “carreira do mundo capitalista”, se sujeitaria a participar ativamente de um sindicato ou associação de funcionários? A ética utilitária também é outra forma de sustentar e fortalecer esse modelo, pois o “direito de consumir” se confunde equivocadamente e propositalmente como “algo essencial à vida” nesse tipo de sociedade. Esse conceito fortalece, e muito, a estrutura consumista que destrói e mata pessoas em todo o mundo. Quem nunca foi tentado a comprar o que não precisa, muitas vezes com o dinheiro que não tem? O ter, nesse aspecto, se sobrepõe ao “ser-humano”, pois o consumismo desenfreado beneficia apenas alguns poucos gerando concentração de renda, pobreza e miséria.
Precisamos também lembrar que a pobreza não é uma fatalidade ou um fruto do acaso. Ela é conseqüência deste modelo perverso que visa concentrar a renda e os bens nas mãos de poucos e que busca, incansavelmente, impedir a conscientização da grande maioria das pessoas que normalmente ficam com a menor parte das riquezas produzidas nesses países sobre os seus males e as formas de combate-la. É por isso que a Educação e os investimentos no fortalecimento das redes sociais de proteção aos pobres, por exemplo, não tem prioridade nos orçamentos públicos dos países ditos “capitalistas modernos”. A prioridade será sempre, segundo os princípios do “capitalismo neoliberal”, o pagamento dos juros das dívidas públicas através dos perversos superávits fiscais primários.
O Profeta Isaías disse sete séculos antes de Cristo que “a paz é fruto da justiça”. O erro da humanidade moderna foi manter essa afirmação dentro de um âmbito religioso quando, na verdade, se tratava de uma grande diretriz estratégica que deveria orientar todos os governos do mundo. Não há construção de uma paz verdadeira sem que ela seja edificada nos pilares da justiça. E essa justiça precisa encontrar referência em uma política econômica a serviço da dignidade da pessoa humana através da partilha e da solidariedade.
Precisamos fortalecer, cada vez mais, os movimentos que busquem a coletivização dos sonhos, como os sindicatos, as associações, os movimentos de bairros e os movimentos sociais. Há grupos, inclusive, que vivem uma nova experiência econômica baseada na produção de cooperativas auto-gestionadas onde todos partilham igualmente as riquezas produzidas sem a figura do “dono” ou do “patrão que fica com a maior parte”. São os grupos de “economia solidária”. Neles, a política jamais se submeterá à economia, pois ela a economia é meio de promoção da dignidade humana e não um “fim em si mesma”. Por isso que esses grupos de economia solidária precisam ser valorizados e respeitados principalmente no que tange as políticas públicas que priorizem as relações econômicas e sociais entre eles.
Esse é o desafio que temos. Está na hora de caminharmos rumo a um novo mundo possível. As pistas para as ações são essas que acabamos de refletir. Precisamos, sobretudo, de coragem para encarar esse novo e importante desafio. Dessa forma conseguiremos, finalmente, vislumbrar um novo horizonte de justiça e solidariedade para um novo tempo e uma nova história em nossa sociedade.
Data: 20/09/2010
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4787&boletim_id=765&componente_id=12721

Notícia na Gazeta do Povo sobre Regularização Fundiária no Litoral Paranaense

Falta de gestão do território contribuiu para o problema


A regularização fundiária não é uma dor de cabeça apenas para os gestores
públicos no litoral. O problema é nacional e começou quando as primeiras
cidades foram formadas com o início da colonização. Porém, a região
litorânea tem alguns agravantes, apontados por especialistas: falta de
gestão do território, questões ambientais, problemas políticos e
judiciais, além do custo envolvido para expedir títulos de posse.

O Litoral do Paraná tem algumas características próprias, segundo o
coordenador do curso de Gestão Técnica do Meio Urbano (GTU) e de
Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR),
Carlos Hardt. Ele salienta que a questão fundiária na região começou a
ser discutida a partir da década de 50, aproximadamente, quando começou a
aparecer na região o mercado imobiliário voltado ao turismo. Até então,
a população predominante era de pescadores e a regularidade da ocupação
não era uma preocupação das prefeituras. Isso mudou com as construtoras
e particulares interessados em adquirir um terreno. “O veranista
demandava lotes”, comenta.

Saiba mais
4 em 10 moradores do litoral são posseiros

Além disso, houve ainda os casos clássicos de golpes
envolvendo a venda de terrenos. “Em Guaratuba, por exemplo, um lote foi
vendido três ou quatro vezes. E isso só pode ser má-fé”, comenta Hardt.

Para o urbanista do Instituto Polis, Kazuo Nakano, os dados de
problemas fundiários do litoral do Paraná não diferem muito do restante
do país, apesar de o índice ser muito maior do que o resultado da Pnad
de 2007. “Em São Paulo, até 40% das pessoas vivem em áreas irregulares.
No Norte e Nordeste, é daí para cima”. O urbanista acredita ainda que a
resolução do problema é complicada e cara. Nakano aponta ainda
resistência do Judiciário e questões ambientais como empecilhos para
regularização. “Os juízes são resistentes em acatar os mecanismos
jurídicos para dar posse de áreas irregulares.”

Estadual

Além das prefeituras, quem também tenta resolver problemas pontuais
de questão fundiária é o governo do Paraná. O problema é a estrutura em
relação ao tamanho do trabalho. Atualmen­te, um único servidor é
responsável pelo Instituto de Terras, Cartografia e Geociência (ITCG) e
trabalha em uma pequena sala na garagem do prédio do Instituto Ambiental
do Paraná (IAP), em Morretes. O órgão havia sido desativado no fim da
década de 70, com as funções integradas ao IAP, e, em 2005, foi
recriado.

O funcionário do ITCG no litoral, Constantino Stopinski Filho, conta
que hoje trabalha com a regularização de algumas áreas, que pertencem ao
governo estadual, mas são ocupadas por particulares. Ele admite a
dificuldade em ter um diagnóstico preciso do problema fundiário na
região, quanto mais resolvê-lo. “Os dados estão completamente
defasados”.

O diretor de Terras do ITCG, Albari Lejambre, reforça a dificuldade
técnica de saber, por exemplo, a quem pertence uma área. “É tudo meio
confuso”. Eles estima que, se a análise da questão fundiária no Paraná
levar em conta todo o território, até 80% podem ter problema de posse.
Para ele, uma das dificuldades é o custo de registro em cartório, que é
de cerca de R$ 3 mil. “Pre­cisaríamos de um trabalho conjunto do
Judiciário, de cartórios e dos governos, principalmente o federal, para
regularizar as posses”.

Fonte:

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=930369&tit=Falta-de-gestao-do-territorio-contribuiu-para-o-problema

Agroecologia em Rede

Agroecologia em Rede


Cadastre-se e conheça as experiências do Brasil e da América Latina no site:
www.agroecologiaemrede.org.br
Mapa das iniciativas de ensino, pesquisa e extensão em Agroecologia.

Indicação de Leitura – AS TRES ECOLOGIAS (Félix Guattari)

“O que está em questão é a maneira de viver daqui em diante sobre o planeta, no contexto da aceleração das mutações técnico-científicas e do considerável crescimento demográfico.
Em virtude do contínuo desenvolvimento do trabalho maquínico, redobrado pela revolução da informática, as forças produtivas vão tornar disponível uma quantidade cada vez maior do tempo de atividade humana potencial. Mas com que finalidade? A do desemprego, da marginalidade opressiva, da solidão, da ociosidade, da angústia, da neurose, ou a da cultura, da criação, da pesquisa, da reinvenção do meio ambiente, do enriquecimento dos modos de vida e de sensibilidade?”

Brasil e o letramento: em busca do tempo perdido

Nícia Ribas, Plurale em Revista
Fonte: http://mercadoetico.terra.com.br/arquivo/letramento-em-busca-do-tempo-perdido/
Muito se fala na importância da educação para o desenvolvimento de uma nação, mas pouco se tem feito por ela. Embora venha diminuindo o número de analfabetos brasileiros – atualmente são 14 milhões, o que significa 10% da população com mais de 15 anos – vai ser difícil cumprir a meta estabelecida durante a Conferência Mundial de Educação, em Dacar (Senegal), no ano 2000. Com outros 128 países, o Brasil assinou um pacto para melhorar a qualidade do ensino e, entre as metas estabelecidas, está reduzir pela metade a taxa de analfabetismo até 2015, chegando ao percentual de 6,7%. Conseguirá?
A principal estratégia do Ministério da Educação para atingir a meta é o programa Brasil Alfabetizado, que dá apoio técnico e financeiro para que municípios e estados criem turmas de jovens e adultos. No entanto, além disso, o Brasil enfrenta outro grande desafio: o chamado analfabetismo funcional, que atinge 25% da população com mais de 15 anos, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE.
O indivíduo com menos de quatro anos de estudos completos é considerado um analfabeto funcional quando lê e escreve frases simples, mas não é capaz de interpretar textos e colocar ideias no papel. Mal lendo e escrevendo e fazendo apenas contas básicas, ele enfrenta dificuldades no seu dia-a-dia, principalmente na hora de entrar para o mercado de trabalho.
Como disse o presidente da ONG Ação Educativa, Sérgio Haddad, à Agência Brasil, “o analfabetismo funcional é um fenômeno novo que se deve, principalmente, à baixa qualidade do ensino público.” Na avaliação dele, é preciso eliminar o mal com a educação de qualidade para que crianças e jovens saiam da escola com domínio pleno da leitura e da escrita.
Essa incapacidade de dominar os textos, reflexo do mau funcionamento do sistema de ensino, é um problema que vem sendo bastante discutido pelos educadores em todo o mundo. E a solução pode ser o letramento. Paulo Freire, no Brasil; Jean Foucambert e Célestin Freinet, na França, lançaram as bases da formação pedagógica necessária para mudar o ensino da leitura. Para eles, o ato da leitura é um ato político e uma prática social.
No Paraná, foco no Letramento
O Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Federal do Paraná já agendou para 27, 28 e 29 de outubro sua Ação Integrada para o Letramento 2010, encontro que realiza há três anos, com a finalidade de disseminar esse modo de ler. O pedagogo francês, Jean Foucambert, autor de diversos livros sobre leitura, estará presente, pela segunda vez, ao encontro paranaense. A edição de junho da revista Les Actes de Lecture (www.lecture.org), da AFL- Associação Francesa para Leitura, de Paris, destaca o trabalho desenvolvido pela equipe do Departamento de Letras da UFPR.
Para a professora Lúcia Cherem, formada em Letras, com doutorado em literatura e professora de francês, coordenadora do Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica, que trabalha com o letramento, “o ensino da leitura, voltado para a realidade do nosso cotidiano, poderá ser o salto que a educação brasileira, apoiada por outros setores da sociedade, tanto precisa dar.” Ela e sua equipe acreditam numa promoção social coletiva no momento em que todos os alunos das escolas públicas e privadas tiverem acesso à leitura e á escrita.
Paralelamente ao trabalho de pesquisa, eles oferecem cursos de extensão universitária para professores de línguas estrangeiras e materna das redes de ensino básico e médio municipal e estadual. Ao todo são 100 professores alfabetizadores e 70 chefes regionais das escolas estaduais a cada ano. A pedagoga Nara Salamunes, Diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Municipal de Curitiba, que desde 2005 trabalha com foco na atualização continuada dos professores da escola básica, garante: “No convívio constante com os professores, já percebemos sua satisfação e compromisso crescente com os resultados desse trabalho.”
Leitura para todos
O fato de Curitiba ser a capital com maior número de bibliotecas por habitante no país (2,9), não é suficiente para garantir a formação de leitores: “É preciso promover ações que tornem as bibliotecas lugares atrativos e de ação, com bons agentes de leitura e com contadores de história. A literatura é importante, mas é preciso também oferecer jornais e revistas, com visões críticas da sociedade. E também livros sobre vários temas, como trabalho, problemas de gênero, imprensa, questões sociais próximas dos leitores”, diz Lúcia.
Para a equipe da UFPR, a questão social está diretamente relacionada ao domínio da leitura. “Nossa sociedade se divide entre letrados e iletrados. É claro que os letrados detêm o poder e ditam as regras. Há letrados conscientes desse problema e há outros que se veem privilegiados nessa posição e acham normal que isso continue assim. No entanto, todos têm que ter acesso ao mundo da escrita, seja para ler, para escrever, posicionado-se, ou para organizar sua vida por escrito. A leitura e a escrita são extremamente importantes no tipo de sociedade em que vivemos. Experimente ir a um supermercado com lista e sem lista de compras. Você vai sentir a diferença nessa coisa básica. Imagine para o entendimento melhor da sociedade, para entender o seu lugar nela e para poder votar de forma mais consciente. E também para a estruturação da própria personalidade, por ser uma forma de autoconhecimento. Ler e escrever podem ajudar em muitas coisas, estão cada vez mais presentes em qualquer atividade humana”, diz a professora.
No Brasil, a questão da educação com qualidade depende de vontade política. “É claro que tem que passar pela escola, como já acontece em muitas delas através do trabalho excelente de alguns professores, mas não pode ficar apenas dentro da escola. Podemos colocar as crianças em contato com livros, sem pedir a elas que façam ficha de leitura e trabalho escolar. Elas precisam entrar nos livros, se envolver com eles. Contar sobre suas leituras a seus amigos e colegas, dividir suas experiências como numa rede, assim como fazem quando falam dos vídeo games, dos jogos que conhecem e que querem compartilhar. Isso contagia. Ler é contagiante”, afirma.
Nas bem sucedidas práticas de leitura que já vêm acontecendo no Brasil, os alunos são levados a ler em conjunto, com setores que aproveitam essa experiência. Discutem, por exemplo, a presença e a imagem dos velhos nos livros infantis, os estereótipos, leem com os velhos em asilos; há escolas que já promovem esse tipo de coisa, preparando com as crianças um material a ser lido com futuras mães, por exemplo, em postos de saúde, sobre amamentação, contracepção, etc…”A leitura deixa de ser uma tarefa apenas escolar, um martírio, para ter uma função social; a literatura também provoca prazer, alegria em se descobrir um jeito novo de lidar com a linguagem, como na linguagem poética. Há muita coisa a ser descoberta quando se domina o mundo da escrita.” garante a professora Lúcia Cherem.
No Rio, a Cátedra Unesco
Instalados numa casa branca dentro do campus da PUC-Rio, uma equipe de estudiosos prepara material para abastecer professores, pais, agentes culturais, agentes de saúde e demais adultos responsáveis pela formação de pessoas em todo o Brasil. Trata-se de um projeto coletivo desenvolvido pela Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio, sob a coordenação da professora Eliana Yunes: “Grupos de pesquisa formados por alunos, ex-alunos, mestrandos e doutorandos da Universidade, além de outros especialistas, desenvolvem programas de formação do leitor, que estão sendo colocados em prática pelo país a fora, com parcerias e articulações entre outros compromissados”, explica ela.
Desde quando descobriu que ler não é apenas a decodificação do texto gráfico, a professora, formada em Letras, com Pós Doc na Alemanha, vem disseminando esse novo conceito da leitura, que para ela, é transversal em tudo na vida humana: “Tudo é legível, não apenas a literatura; mas também uma exposição de arte, um espetáculo teatral, um filme, um acontecimento político.” Para Eliana, leitura não se limita a uma atividade intelectual e não pode ser dissociada dos sentimentos e afetos. E vai além: “ler mobiliza mais que a cognição e a sensibilidade, ler mobiliza a intimidade, a subjetividade de cada um”.
Quando assumiu a diretoria da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 1985, ela pode sentir o encantamento que a leitura exercia sobre as crianças até a 3ª. e 4ª. séries: “Elas se envolviam com as histórias, era um aprendizado que mexia com emoções e com a inteligência, permitindo que tirassem lições de vida; mas da 5ª série em diante, o trato da literatura nas escolas deixava de ser a hora para conhecer a própria vida, passando a ser aula de informações críticas, com práticas construtivas, notas, avaliações sob um ponto de vista fechado, ditado pelo livro do professor”, lembra.
Como professora universitária, Eliana percebeu que os alunos não sabiam, de fato, ler: “Eles liam Graciliano Ramos, por exemplo, interessados apenas na crítica acadêmica construída, sem buscar sentir o ponto de vista dos personagens e sem entender o seu próprio, que é o verdadeiro aprendizado”. Ela constatou o grande abismo existente entre leitura e vida. Aqueles jovens, já cursando universidade, não tinham aprendido a ler; apenas acumulavam informações intelectuais desconectadas de sua realidade. Consequentemente, o sujeito que ia ensinar a experiência humana, nos 1º e 2º Graus, não tinha afinidade com a prática de leitor efetivo, que percebe a vida, os sentimentos, através da leitura.
Diante da constatação, a professora concluiu que era necessário, com urgência, operar uma mudança pedagógica, teórica e política: “Precisávamos de uma Política Pública de Leitura, que também oferecesse novos rumos pedagógicos, capazes de afetar a educação e a cultura como um todo.” Desde o início da década de 90, Eliana dedica-se em tempo integral ao estudo da leitura, da formação do leitor, e dos modos de transmitir essa prática de forma sedutora. Ela mantém um grupo de jovens pesquisadores, construindo um saber sobre o tema.
E nasceu o Proler
Depois de uma série de estudos no exterior, em 1991 Eliana integrou temporariamente a equipe da Biblioteca Nacional, onde Affonso Romano de Sant`Anna, então diretor, acabara de criar uma área de leitura. Foi nessa época que participou da criação do Proler – Programa Nacional de Incentivo à Leitura. Em carta para os então quase cinco mil municípios brasileiros, a equipe do Proler perguntou se gostariam de participar de uma experiência inovadora de estímulo à leitura. Setenta e dois responderam, interessados. A estes foram enviados questionários para conhecer os equipamentos e os recursos de que dispunham. Vinte e um preencheram as respostas e estes receberam a visita da equipe do Proler, que organizou encontros de sensibilização com a finalidade de mostrar que “a leitura tem que mexer com os nervos, o coração, a inteligência.”
Paralelamente à experiência do Proler,foi sendo construída uma pedagogia da leitura. Em cinco anos, a equipe visitou 600 municípios, formando agentes locais, que passaram a coordenar os encontros. “Hoje o Proler tomou outro jeito, mas continua existindo, apesar da falta de desdobramentos nos governos seguintes”, diz Eliana, que não acredita em fórmulas, receitas prontas, mas sim em prática, vivência, experiência, que resultam em políticas locais com força mobilizadora da sociedade dentro e fora da escola.
Principais projetos da Cátedra
Valeu a pena ter desistido de outras casas universitárias, onde era professora concursada, para atender ao convite da PUC-Rio para trabalhar em tempo integral com o ensino da leitura. “Agora temos aqui na Cátedra um projeto coletivo com base acadêmica na prática política que estuda pilotos de programas para serem colocados em prática, testados país a fora.
“Trabalhamos com a formação dos adultos, pois eles são os mediadores para as novas gerações”, diz ela, relacionando alguns projetos em andamento:
> Com o Ministério da Cultura promove o Programa Nacional de Formação de Agentes de Leitura, dirigido a jovens de 18 a 28 anos. A Cátedra forma os supervisores, os multiplicadores e prepara o material pedagógico;
> Digitalização de Banco de Dados sobre Leitura, uma biblioteca Temática, em português e espanhol que estará disponível no site www.catedra.puc-rio.br, com apoio do MEC.
> Análise de texto e imagem de uma seleção de seu acervo de 19 mil livros de literatura infantil, para criar a primeira biblioteca digital de LIJ no Brasil.
> Para o Ministério da Educação analisa o Prêmio Viva Leitura, que já reuniu 10 mil projetos de leitura no País. Faz mapeamento da leitura no Brasil: quem faz o que, onde e como, com que recursos. Resultados estarão disponíveis para todos.
> Fórum e chats na Internet para as comunidades inscritas e organizadas enquanto rede de pesquisadores e promotores de leitura.
A equipe da Cátedra Unesco PUC-Rio de Leitura oferece seu assessoramento para um novo modo de ler e, consequentemente, de pensar, refletir sobre si mesmo e a vida. “O que a Cátedra busca é registrar o conhecimento que se produz mundo a fora por equipes diversas, além da nossa, que se constituem parceiras deste trabalho no qual se busca fomentar uma autonomia possível de mediadores e gestores em um programa permanente de incentivo à leitura, como hoje preconiza o PNLL – Plano Nacional do Livro, da Leitura e da Literatura. Para nós não interessa a cereja sobre o chantilly do bolo; o que nos interessa é o fermento na massa,” diz Eliana Yunes.




Edgar Morin – O arquiteto da complexidade

 


Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/arquiteto-complexidade-423130.shtml
Edição Especial | 10/2008

Sociólogo francês propõe a religação dos saberes com novas concepções sobre o conhecimento e a educação
Márcio Ferrari (novaescola@atleitor.com.br)








Foto: Edison Vara
Mudanças profundas ocorreram em escala mundial nas últimas décadas do século 20, entre elas o avanço da tecnologia de informação, a globalização econômica e o fim da polarização ideológica entre capitalismo e comunismo nas relações internacionais. Diante desse cenário, o sociólogo francês Edgar Morin, hoje com 87 anos, percebeu que a maior urgência no campo das idéias não é rever doutrinas e métodos, mas elaborar uma nova concepção do próprio conhecimento. No lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, Morin propõe o conceito de complexidade.
Ela é a idéia-chave de O Método, a obra principal do sociólogo, que se compõe de seis volumes, publicados a partir de 1977. A palavra é tomada em seu sentido etimológico latino, "aquilo que é tecido em conjunto". O pensamento complexo, segundo Morin, tem como fundamento formulações surgidas no campo das ciências exatas e naturais, como as teorias da informação e dos sistemas e a cibernética, que evidenciaram a necessidade de superar as fronteiras entre as disciplinas. "Ele considera a incerteza e as contradições como parte da vida e da condição humana e, ao mesmo tempo, sugere a solidariedade e a ética como caminho para a religação dos seres e dos saberes", diz Izabel Cristina Petraglia, professora do Centro Universitário Nove de Julho, em São Paulo.
Para o pensador, os saberes tradicionais foram submetidos a um processo reducionista que acarretou a perda das noções de multiplicidade e diversidade. A simplificação, de acordo com Morin, está a serviço de uma falsa racionalidade, que passa por cima da desordem e das contradições existentes em todos os fenômenos e nas relações entre eles.
Biografia
Edgar Morin nasceu em 1921 em Paris. Seu nome verdadeiro é Edgar Nahoum. Fez os estudos universitários de História, Geografia e Direito na Sorbonne, onde se aproximou do Partido Comunista, ao qual se filiou m 1941. Teve papel ativo no movimento de resistência à ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Depois do fim da guerra, participou da ocupação da Alemanha. Em 1949, distanciou-se do PC, que o expulsou dois anos depois. Ingressou no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), onde realizou um dos primeiros estudos etnológicos produzidos na França, sobre uma comunidade da região da Bretanha. Criou o Centro de Estudos de Comunicações de Massa e as revistas Arguments e Comunication. Em 1961 rodou o filme Crônica de um Verão em parceria com o documentarista Jean Rouch. Em seguida, fez uma série de viagens à América Latina. Em 1968 começou a lecionar na Universidade de Nanterre. Passou um ano no Instituto Salk de Estudos Biológicos em La Jolla, na Califórnia, onde acompanhou descobertas da genética. Redigiu em 1994, com o semiólogo português Lima de Freitas e o físico romeno Basarab Nicolescu, um manifesto a favor da transdisciplinaridade. Em 1998, promoveu, com o governo francês, jornadas temáticas que originaram o livro A Religação dos Saberes. Em 2002, a Justiça o condenou por difamação racial devido a um artigo no qual dizia que "os judeus, que foram vítimas de uma ordem impiedosa, impõem sua ordem impiedosa aos palestinos". Morin, que é judeu, pagou 1 euro como pena simbólica. Ainda diretor de pesquisas no CNRS, ele é doutor honoris causa em universidades de vários países e presidente da Associação para o Pensamento Complexo.
Pré-história do saber
Acima de tudo, o sociólogo francês defende a introdução da incerteza e da falibilidade na rigidez cultural do Ocidente. As limitações causadas pela compartimentação do conhecimento, de acordo com o educador, são responsáveis por manter o espírito humano em sua pré-história. Além disso, a tendência de aplicar conceitos abstratos vindos das ciências exatas e naturais ao universo humano resulta em desconsideração por aspectos como o ambiente, a história e a psicologia, entre outros. Um exemplo, diz o pensador, é a economia, a mais avançada das ciências sociais em termos matemáticos e a menos capaz de trabalhar com regularidades e previsões.
A Era da Incerteza

Equação da física de partículas, parte da
teoria quântica: novas visões de mundo.
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O início do século 20 foi marcado por duas revoluções científicas: a teoria da relatividade de Albert Einstein (1858-1947) e a mêcanica quântica de Max Planck (1879-1955). Ambas obrigaram a humanidade a rever doutrinas e tiveram aplicações nas mais diversas áreas, da filosofia à indústria bélica. A teoria quântica, por exemplo, derrubou certezas da Física e as substituiu pela noção de probabilidade. A relatividade pôs em questão os conceitos de espaço e tempo. Para completar, na termodinâmica, Niels Bohr (1885-1962) chegou à necessidade de tratar as partículas físicas tanto como corpúsculos quanto como ondas. Quando tudo parecia incerto e relativo, a teoria do caos, já na segunda metade do século, veio, de certa forma, na direção oposta, ao demonstrar que também nos sistemas caóticos existe ordem. Essas e outras reformulações do conhecimento humano levaram Morin a definir sete "princípios-guia" da complexidade, interdependentes e complementares. São eles os princípios sistêmico (o todo é mais do que a soma das partes), hologramático (o todo está em cada parte), do ciclo retroativo (a causa age sobre o efeito e vice-versa), do ciclo recorrente (produtos também originam aquilo que os produz), da auto-eco-organização (o homem se recria em trocas com o ambiente), dialógico (associação de noções contraditórias) e de reintrodução do conhecido em todo conhecimento.
Para recuperar a complexidade da vida nas ciências e nas atividades humanas, Morin recomenda um pensamento crítico sobre o próprio pensar e seus métodos, o que implica sempre voltar ao começo. Não se trata de círculo vicioso, mas de um procedimento em espiral, que amplia o conhecimento a cada retorno e, assim, se coaduna com o fato de o homem ser sempre incompleto – o aprendizado é para toda a vida. "A reforma do pensamento pressupõe a consciência de si e do mundo", diz Izabel Cristina. "Ela decorre da reforma das instituições e vice-versa."
Nos processos em espiral, é necessário conhecer os conceitos de ordem, desordem e organização. Do ponto de vista da complexidade, ordem e desordem convivem nos sistemas. O que diferencia o todo da soma das partes é o que Morin denomina comportamento emergente. Nos seres humanos, a dinâmica entre ordem e desordem se subordina à idéia de auto-eco-organização: a transformação extrapola o indivíduo, se estendendo ao ambiente circundante. Uma vez que tudo está interligado, a solidariedade é tida pelo sociólogo como peça fundamental para superar aquilo que denomina crise planetária – uma situação de impotência diante de incertezas que se acumulam.
Ouvir os jovens
Não há espaço em que a fragmentação do conhecimento esteja tão explícita quanto na escola, com sua estrutura tradicional de parcelamento do tempo em função de disciplinas estanques. Por outro lado, a diversidade de sujeitos e objetos em busca de conexões fazem da sala de aula um fenômeno complexo, ideal para iniciar o processo de mudança de mentalidades defendida por Morin. A meta é a transdisciplinaridade. "Só convencido de que tudo se liga a tudo e de que é urgente aprender a aprender, o educador adquirirá uma nova postura diante da realidade, necessária para uma prática pedagógica libertadora", observa Izabel Cristina. 
Sete Saberes Indispensáveis

Tecnologia na escola: tópico para lidar com
a fartura de informações.
Foto: JupiterImages/AFP
Em sua defesa da religação dos saberes, Morin tocou numa inquietação disseminada nos dias atuais, quando a tecnologia permite um acesso inédito às informações. Por isso a Organização das Nações Unidas pediu a ele uma relação dos temas que não poderiam faltar para formar o cidadão do século 21. Assim nasceu o texto Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. A lista começa com o estudo do próprio conhecimento. O segundo ponto é a pertinência dos conteúdos, para que levem a "apreender problemas globais e fundamentais". Em seguida vem o estudo da condição humana, entendida como unidade complexa da natureza dos indivíduos. Ensinar a identidade terrena é o quarto ponto e refere-se a abordar as relações humanas de um ponto de vista global. O tópico seguinte é enfrentar as incertezas com base nos aportes recentes das ciências. O aprendizado da compreensão, sexto item, pede uma reforma de mentalidades para superar males como o racismo. Finalmente, uma ética global, baseada na consciência do ser humano como indivíduo e parte da sociedade e da espécie.
Contra a idéia arraigada de que a decomposição do conhecimento responde à suposta limitação intelectual das crianças, o pensador afirma que elas têm as mesmas inquietações dos adultos. Ouvir os alunos, naturalmente sintonizados com o presente, é a melhor maneira de o professor investir na própria formação. Esse também é o caminho para construir um programa de ensino focado no próprio estudante e suas referências culturais, porque as grandes metas da educação deveriam ser o desenvolvimento da compreensão e da condição humana. Segundo Morin, o profissional mais preparado para operar essa mudança de enfoque é o professor generalista dos primeiros anos do Ensino Fundamental, por ter uma visão ampla do processo.
Para pensar
Na opinião de Edgar Morin, cabe aos professores do Ensino Fundamental começar a derrubar as barreiras entre os conhecimentos, por duas razões principais: eles têm a experiência generalista (pelo menos os que trabalham nas séries iniciais) e lidam com as crianças mais novas, que guardam uma curiosidade e um modo de pensar ainda não influenciados pela separação dos conteúdos em disciplinas. Você, como professor, se dá a liberdade de preparar aulas sem necessariamente parcelar o horário em períodos estanques?
Quer saber mais?
A Cabeça Bem-Feita, Edgar Morin, 128 págs., Bertrand Brasil, tel. (21) 2585-2000 end_of_the_skype_highlighting, 25 reais
A Religação dos Saberes, Edgar Morin, 588 págs., Ed. Bertrand Brasil, tel. (21) 2585-2000 end_of_the_skype_highlighting, 69 reais
Edgar Morin – A Educação e a Complexidade do Ser e do Saber, Izabel Cristina Petraglia, 120 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2246-5552 end_of_the_skype_highlighting, 20 reais
Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro, Edgar Morin, 118 págs., Ed. Cortez, 22 reais